Desviados de Cristo para a Religião do Zelo

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Há poucas semanas semanas conversava com um amigo a respeito de duas Tattoos que ele pretendia fazer. Enquanto conversávamos, mostrei minhas duas pequenas tattoos pra ele (pequenas, pelo menos perto das que ele pretendia fazer). Antes de declarar meus propósitos de fazer mais algumas, ele logo se assustou e disse algo mais ou menos assim: "Cara, você gosta mesmo da tattoo, né! Você sabe que não pode, né! Tipo, não tem nada na bíblia condenando, mas agente sabe que é pecado. É igual..." Nesse momento ele citou uma lista de coisas que "não fala na bíblia", mas que agente "sabe que é pecado". Para fechar o discurso, me disse que preferia "pecar por excesso de zelo do que por falta dele" e que preferia chegar diante de Jesus e ouvir: "eu deixei fazer e você não fez" do que ouvir: "eu não deixei fazer e você fez. Apartai-vos de mim!" O que ouvi me incomodou tanto que, no dia, só dei conta de demonstrar que tinha outra opinião a respeito, mas não quis discutir. Me propus a voltar pra casa e elaborar uma réplica minimamente razoável. Passaram-se algumas semanas e, neste último final de semana, o mesmo assunto voltou a me incomodar. Acredito que falar sobre isso agora não é nem mais uma questão de discussão de pontos de vista teológicos, mas uma questão urgente de saúde da espiritualidade Cristã de muitos amigos. Pelo jeito não existe só um ou outro contaminado por essa doutrina. Na verdade ela se alastrou como uma praga no brasil, especialmente pela comunidade evangélica, e precisa ser urgentemente combatida pela sã Doutrina. Gostaria, nesse caso, de deixar aqui uma resposta ao meu amigo tatuado e ao mesmo tempo uma exortação aos que estão se desviando de Cristo para a religião do zelo.
"Mas o que te incomoda tanto?", você pode estar se perguntando. Se você não se incomodou ou, no mínimo, não percebeu o que me incomoda nessa história, provavelmente essa doutrina tem corroído sua espiritualidade também. Mas, no amor de Cristo, peço que não pare de ler agora. Vou me explicar e, se não concordar ou não compreender, pode replicar ao final, publicamente ou no inbox, no blog, no Facebook ou pessoalmente, se quiser. A grande maioria dos meus leitores tem meu telefone e sabem meu endereço. Sinta-se convidado para um café!
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Bom, o que me incomoda nessa história toda é que a preocupação com a santidade tem saído do campo do efeito e invadido o campo da causa, no que diz respeito a salvação. A santidade (para não dizer: caprichos morais, o que compõe a maior parte dos casos) não pode definitivamente ser a causa da salvação exatamente porque a única e exclusiva causa da nossa salvação diante de Deus é a obra de Cristo na cruz do calvário! Foi por causa dessa mensagem que Wycliffe, Huss, Savonarola, Lutero, Calvino, Zuinglio e muitos outros protestaram (e alguns até morreram por essa causa) há mais de 500 anos atrás contra todo um sistema católico medieval que oprimia os crentes, submetia-os a caprichos que atendiam diretamente a interesses moralistas e econômicos. E não é diferente hoje! A igreja evangélica de hoje, fruto do sangue da reforma, volta a passos largos para as mesmas práticas contra as quais protestou no passado. E tudo isso é fruto de um sistema que mantém os pobres pecadores doando sua força, seu tempo e principalmente seu dinheiro nas igrejas e, muitas vezes, no bolso de charlatões. A insegurança com relação à graça e a soberania de Deus, Aquele que mantém os santos no Caminho, leva os líderes a constranger os crentes a permanecer no caminho por meio de discursos e práticas moralistas a fim de "serem salvos" no final das contas. Minha afirmação diante disso e o que falarei ao longo dessa postagem é que, seja para manter os crentes "na Palavra", seja para sacar-lhes o dinheiro, essa dinâmica não condiz a sã Doutrina da salvação pela Graça. E é essa espiritualidade que produz o tipo de discurso que ouvi do meu amigo.
Preocupar-se com a santidade não é algo ruim. Fomos salvos pela Graça de Deus e procuramos manter nossas práticas de acordo com o Evangelho que nos anunciou essa salvação. Porém, a partir do momento em que essas práticas tornam-se critério para a salvação, já não estamos confiando mais na obra de Cristo, mas em nossas próprias obras. Seja no sentido negativo (da abstinência de práticas) ou positivo (da prática de boas obras), isso não pode substituir o ponto crucial da nossa justificação, ou seja, a Cruz de Cristo. Qualquer substituto para Cristo em nossas vidas é um ídolo.
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A pura espiritualidade Cristã é pautada sobre a obra de Cristo, reconhecendo que Deus enviou Jesus por causa do Seu amor por nós, e nos recriou em Cristo PARA as boas obras, a fim de que andássemos nelas (Ef 2.10). As obras são o objetivo e nunca a causa da salvação. Nesse ponto os evangélicos vivem criticando a crença espírita na salvação "baseada nas boas obras". Mas eles fazem a mesma coisa ao basear sua salvação no ato de "não pecar". Isso sem dizer que esse "não pecar" nunca é uma realidade efetiva em suas vidas, assim como não é na vida de nenhum ser humano. É por isso que temos um advogado no céu! Somos pecadores e por isso precisamos de justificação. Não pecar não nos faz mais santos do que Cristo nos fez e o ato de pecar não nos torna mais pecadores do que já somos. É por isso que, em nenhum momento na bíblia encontramos alguma exortação à santidade que ameace a salvação eterna dos crentes. Isso é fruto do dispensacionalismo que prega, há algumas décadas que, "se Jesus voltar agora e você estiver 'em pecado' você não 'vai pro céu'". Engraçado que "em pecado" é uma expressão inexistente nas Escrituras para se tratar do estado espiritual do crente. A relação simples do cristão com Deus, baseando-se sempre no ato de sua Graça para conosco em todas as coisas não nos conduz à libertinagem, mas ao amor, às boas obras, à ação de graças. Quando não confiamos plenamente em Cristo, acabamos por confiar em nós mesmos, em nossa religião, em nosso não pecar. Nesse ponto, santidade vira uma questão de conquista pessoal e serve sempre de base para julgarmos a santidade e até mesmo o destino eterno do outro. E assim acontecem os processos de coerção social religiosa. apontando_o_dedoA bíblia é usada todos os dias como uma nova Torá, onde constam as regras de moral e bons costumes a partir das quais os crentes são julgados, condenados ou censurados. Já estive em uma reunião deliberativa onde um irmão, que havia confessado publicamente ter transado fora do regime do casamento, estava recebendo sentenças punitivas da comunidade em forma de meses "de disciplina". O primeiro foi o pastor e depois outros membros foram se manifestando: "3 meses, pastor!". Outro disse: "não, 6 meses!" e a esposa do pastor (que Deus a tenha!) disse algo do tipo: "6 meses é pouco, eu dou 9 meses!" Que tipo de espiritualidade é essa? Que noção de salvação? Um brother meu acaba de me ligar enquanto escrevo esse post, comentando sobre um caso bem recente desses de disciplina e me lembrou que, durante os meses de disciplina o indivíduo fica privado dos serviços "da igreja" e até mesmo da Santa Ceia, instituída por Cristo, através da qual anunciamos o maior ato de misericórdia experimentado na existência humana, o Sacrifício de Cristo na Cruz. Que contradição!!
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No entanto, a bíblia não é um livro de moral (embora possa ser bem manipulada nesse sentido), ela é uma narrativa da história de Deus e do homem, nos apresentando o evangelho da salvação e princípios para permanecermos na liberdade. O Evangelho anuncia que "Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões" (II Co 5.19). Enfim, o Evangelho é muito diferente do que está sendo pregado por aí.
Você pode estar achando tudo isso muito estranho. Talvez sua representação de crente seja a do cara moralista, engravatado, que não bebe, não fuma, não rouba, não transa e não fala palavrão e assim está totalmente preparado para a "vinda de Jesus". Mas eu sinto muito (muita felicidade!) em te dizer que ISSO NÃO É ASSIM! Qualquer Evangelho que passe desse Evangelho da Graça é "outro evangelho" (Gl 1.6) e é "maldito" (Gl 1.8,9), mesmo que seja anunciado por um "ungido do Senhor", um apóstolo, pastor ou um anjo do Céu, como disse o apóstolo.
Bíblia-SagradaGálatas 1.6 apresenta o apóstolo Paulo assustado com o desvio dos crentes daquela comunidade. O engraçado é que eles não se desviaram para a libertinagem, mas para o ascetismo. Isso mesmo! Eles se desviaram literalmente para a religião do "andar segundo as Escrituras" e isso os estava impedindo de andar "em Cristo". O que tenho a dizer diante de tudo isso é o mesmo que o apóstolo tinha para os gálatas: "foi para a liberdade que Cristo nos libertou; por isso, permaneçam firmes, não vos dobrando novamente a jugo de escravidão" (Gl 5.1). O mesmo apóstolo disse que os que "espiam nossa vida para ver se estamos 'andando direito'" são, nada mais nada menos que, "falsos irmãos" (Gl 2.4). A preocupação do apóstolo no livro de Gálatas é a mesma que estamos discutindo neste post: ou a salvação é pela Graça ou é pelas obras. Se for pelas obras, o mérito é nosso e Cristo morreu em vão. Mas se for pela Graça, não fizemos nada pra merecer, a glória é toda dEle e as obras passam a ser simplesmente expressões de gratidão, nada mais e também nada menos do que isso! Tais obras são marcas daquele que foi regenerado pela ação poderosa do Espírito Santo; é o Fruto do Espírito! São Amor transbordado! Já as obras de uma espiritualidade que exige obediência cega a preceitos e líderes obstinados pelo controle da comunidade são conhecidas: "prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, facções, dissensões, facções, invejas, bebedices, orgias e coisas semelhantes a estas" (Gl 5.19-21). Enfim, não sou contra a santificação e também não quero promover a libertinagem. O apóstolo Paulo também foi acusado de tentar promover libertinagem e sua resposta é a mesma que dou a partir de uma espiritualidade totalmente apoiada na Graça de Deus: "como é que vamos viver no pecado, nós que para o pecado morremos?" (Rm 6.2). Não exito em dizer o que digo. Há muitos que durante anos são evangélicos, mas nunca experimentaram essa Graça do Evangelho. São Cristãos, mas nunca tiveram qualquer experiência com o Cristo das Escrituras. Quero que essa mensagem traga conforto e não condenação ao seu coração. Ouça o Evangelho! Entregue-se a Cristo e se esqueça dos seus pecados! Deixo cada um com as palavras do próprio apóstolo Paulo e um convite para o café:
ACÚMULO
"Se morrestes com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos sujeitais ainda a ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies (as quais coisas todas hão de perecer pelo uso), segundo os preceitos e doutrinas dos homens? As quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria em culto voluntário, humildade fingida, e severidade para com o corpo, mas não têm valor algum no combate contra a satisfação da carne" (Colossenses 2.20-23).
Grande beijo a tod@s,
Naquele que não conheceu pecado, mas Deus o fez pecado por nós para que, por meio dele, fôssemos feitos Justiça de Deus.
Jaime Júnior

Postada em 27 de janeiro de 2014 no Blog "Estou em Obras"...
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